sábado, 28 de setembro de 2013

Nosso nome, nossa autoestima

Alessandro Faleiro Marques*

Ninguém melhor do que nós mesmos para saber como um nome é importante. Ele costuma trazer não só a nossa história, mas também a de nossos pais, as escolhas e as inspirações que tiveram antes de nós chegarmos a este mundo de Deus. Mas, quando eles se descuidam, somos condenados a passar a vida inteira soletrando ou ouvindo comentários inconvenientes. Uma irritante e pesada cruz verbal.

Tempos atrás, publiquei no Quase sem Mistério um comentário sobre o nome do principezinho inglês, filho dos badalados William (Guilherme, em português) e Kate (apelido de Catarina). Disse que os brasileiros logo começariam a copiar o nome bebê: George Alexander Louis (Jorge Alexandre Luís). E não deu outra. Agora, os mais “espertos” desenham as letras num pedaço de papel e têm somente o trabalho de entregá-lo ao atendente do cartório; os outros, ainda mais “espertos”, ditam a frase para o coitado do outro lado do balcão e joga para ele a responsabilidade da grafia. A depender do caso, o resultado de ambas as opções pode ser explosivo e, pior, tragicômico.

Estou impressionado com a baixa autoestima dos brasileiros. Temos um dos mais belos e vivos idiomas ocidentais, muito sonoro e suave, com suas inúmeras e ricas variantes. No entanto, muitos de nossos nomes modernos têm origem no inglês, francês, italiano (como o meu, mas ele me encanta) e, quando muito, em latim, russo ou grego. Outros vieram de lugar nenhum. Frutos de puro modismo, mau gosto, idolatrismos, ignorância, caricaturas lexicais, fundamentalismos. Aparecem até apelidos e sobrenomes gringos. São graças sem graça.

Muito além da celebrada antropofagia dos modernistas, alguns prenomes são verdadeira violência contra os bebês. Experimentei constrangimento alheio quando soube de um trabalho de escola. A bem intencionada professora pediu aos alunos que pesquisassem em casa o motivo da escolha de seus nomes. Muitos pais não souberam responder, e os pequenos devolveram em branco o outrora alegre formulário.

Ainda no âmbito escolar, algumas crianças, mesmo em séries mais avançadas, têm dificuldades de grafar como se chamam. Também, diante de tanto k, y, w, h (mudo ou não) e letra dobrada... Não é necessário existir uma lista fechada como em Portugal, mas um pouco de carinho e bom senso faz grande diferença.

Nome de tudo é algo sagrado. É a substância, o substantivo. No Mito da Criação, Deus apresentou ao primeiro homem as criaturas para que este as denominasse. E o Criador respeitou as escolhas de Adão (Gn 2,19-20). Herdamos daí o “nome de batismo”. Por essas e outras, Deus, o Cara, o Todo-poderoso e cheio de bondade, também nos chama pelo nome, por isso devemos caprichar.

Viver é fácil


Para quem gosta de corrigir texto dos outros (nem olhe para mim!), lembro que as regras de ortografia também valem para nomes próprios. Isso vale para pais e profissionais dos cartórios. Outra coisa, alguns podem, sim, ser traduzidos, como de papas e monarcas. Em Portugal e países de língua espanhola, a soberana da Inglaterra é chamada de Isabel, o herdeiro direto é o príncipe Carlos, pai dos príncipes Guilherme e Henrique. O Papa Francisco (em português e espanhol) atende por François, Francesco, Franciscus, Francis, Franciszka e Franziskus, respectivamente em francês, italiano, latim, inglês, polonês e alemão.

E mais, não somos obrigados a pronunciar como em outro idioma. É um equívoco, por exemplo, rir de quem diz “Freudi” (em vez de Froidi) ao se remeter ao Pai da Psicanálise. Por aqui, as letras “e” e “u”, quando juntas, têm som de “eu” e não de “ói”. Desconheço lei que nos obrigue a saber alemão. Para testar, experimente pedir a estrangeiros a leitura de alguns nomes brasileiros. Surpreenda-se! A baixa autoestima cultural também se vê no mundo acadêmico.

Uma curiosidade: depois do falecimento de um cidadão, podemos adaptar a grafia do nome e sobrenome para a norma atual. Portanto, Raphael pode virar Rafael, sem estresse! Como diz meu amigo Jefferson (carinhosamente chamado por nós de Genésio), “Viver é fácil, nós é que complicamos”.

Eu e alguns amigos levantamos alguns nomes em listas, notícias e até obituários (sim, nossas crianças morrem) (veja a seguir). Um espetáculo de criatividade de uns e de gosto pra lá de duvidoso em outros; visto, é claro, pelo âmbito do idioma. Quando foi possível, procurei separar certos duplos ou triplos. Deixo ao seu engenho uni-los. Meus sinceros respeitos aos donos e meus protestos a alguns dos “adãos” de hoje.

Aia (no dicionário, veja o significado)
Albenirson
Aleçandro (a intenção da moça do cartório foi boa)
Aleksander (Alecsander, Alexsandre, Alexssander...)
Alessandro (você acha que ficaria de fora desta lista?)
Alexanderson
Carolinny (e derivados: Karollini, Karollyny, Carolliny...)
Cauan (e derivados: Cawã, Cauãm, Cauã...)
Cinddykelli
Cindy Kelly (a mãe pediu que as palavras fossem lidas juntas e rapidamente)
Cleidiney (também Kleydinney, Kleidinei, Creiddiney)
Clis Albert (achei também Chris Alberty e Crizalbertty)
Creydinei
Creópatra
Cristhynna (Kristtyna, Khristynna...)
David (em português, há muito tempo, não é mais necessário o “d” final)
Dedislayne (também Dedysllane e Dadislanny, obviamente tudo com pronúncia em inglês)
Diana (é claro que em pronúncia inglesa parecida com “Dæian”, e dezenas de derivados: Dyanne, Dianny, Dayane, Daiani, Deianne, Dayyanny...)
Dieghytto
Drynielle
Ednelson (também Edynewson)
Elleyr
Erectina
Eryk (e derivados Hériki, Ériki, Érickky, Heryky... os acentos foram por minha conta)
Farmy
Franklin (um brasileirinho da gema)
Gernerson
Gideone
Grayce
Grauciney
Greis Kele (e os nobres Creicikely, Greyciquelli)
Isabella Karolliny
Izabbely (e derivados Ysabella, Yzabelly...)
Jane Kelly
Jannaynnah (Janaína)
Jennyffer (Gennyfer...)
Jessyka (e derivados Géssika, Jhéssica, Jecica, Gecica)
Jhenifi
Jhonatanael
John Kennedy (é lógico que não poderia faltar um)
Jocycrey (Jocicley, Jociklei: quando eu puder, farei um comentário sobre este nome)
Kace (também Keici, Keyce, Keyccy...)
K.L.Jay
K.S.Jay (mesma família do anterior)
Kate Suellen
Kathlin (e também Kathllyn e muitíssimos outros derivados)
Kayanne
Kaylane Kerolin
Kellya (achei com a pronúncia Kélia e Kelía)
Kimberlly
Letisgo (pronuncia-se como o inglês “let’s go!”)
Leydianny (também Leidianne, Leydiano, Leidianno, Leyddyanne...)
Mardenson
Marllony
Marlon Filipy
Mayki
Maykssuel (e centenas de bilhões de derivados)
Maykou Jékson (é claro que o rei do pop não ficaria de fora!)
Mygnocca (Minhoca, em nossa pronúncia)
Nathanaelsson
Neon
Neviton (pronuncia-se Néviton)
Niccolly (e também Nicolly, Nycolli, Nyccolly...)
Nittyelli
Ozzeny
Paolette (masculino)
Pollyanna (Pollianny e trilhões de derivados que não caberiam aqui)
Rikelme Wilkker (e também Riquellmi, Riquelmmy...)
Rizzia
Ronald Hector (também Ronnaldy, Ronalddy...)
Ruan (derivado do espanhol Juan. Também vi Juán, Xuan, Ruwann)
Scoth Traback
Suenny (também Swene, Suweny)
Syndycley (e variantes Cindycley e Sindicrey)
Talysson
Thalles Fellippe
Víctor (não se deveria acentuar nesse caso)
Waldisney (inspirado em Walt Disney, mas com som de “v” no início; também achei Valdisnei e Ualddisney)
Walliton (também Wallyton, Wallitson...)
Wandeyrson (pronúncia inicial com “V”)
Yulária
Yzabbel (e derivados Isabbel, Ysabbel e até Usabell)
Zenoelson

Deixe seu comentário, contando se você conhece algum nome que merece entrar nessa lista. Também você pode dizer se gosta de seu nome ou se você irá se inspirar nesse rol.


* Professor, revisor de textos e especialista em Direito Público.


5 comentários:

Joédina disse...

Sá, faltou o meu lindo nome!!! kkkkk Hoje me acostumei com ele e aprendi a gostar um pouco, mas se pudesse trocaria de nome. Bejão! Joédina

Alessandro Faleiro disse...

Se não fosse meu amigo Omar, teria pagado um grande mico! O título original saiu como "autoextima", com x. Hehehehe Por isso é que temos de mandar textos para revisão. Valeu, companheiro!

Uslânia disse...

Pode acrescentar o meu e do meu irmão na lista! ;)

A explicação: mamãe teve muitos problemas por culpa de homônimos. Já precisou provar que não estava devendo ao banco e que não morreu. rsrs... Então não queria que os filhos passassem por isso, assim surgiram Uslânia e Udilân. :)

Tudo bem que acho que tinha mil formas de evitar esse problema, mas a intenção foi boa pelo menos! hahaha

Alessandro Faleiro disse...

Novas contribuições para a lista: Croves, Ceir, Jeanderson, Johnathan (e derivados: Jônatá, Dionata, Jonnattah, Jonatas...), Cora, Neiflan, Wezio, Aslan, Dafyne (e derivados: Dáffini, Dhaffyny, Dhafinny...), Ledivan, Rairan, Kayc (e derivados: Kcayk, Caík, Cahyck...), Noemecio, Kauanny Gabrielly, Amaziles.

Anônimo disse...

Estava lendo teu texto sobre nomes e a mediocridade da imaginação imitadora dos brasileiros. Eu optei por me chamar Chico Lopes literariamente, e poderia até ter escolhido coisa mais "sofisticada", digamos, porque sou filho de um espanhol, José Lopes Rubia, e minha mãe era de origem italiana, Elisa Cavalieri. Mas fiquei com Chico Lopes por causa da simplicidade. Detestaria me chamar Fabrício Augusto ou ter alguns desses nomes artificais tipo Maycon ou sei lá o quê...Se me chamam de Francisco, não atendo. Não me sinto Francisco. Me sinto Chico mesmo (rer re re)... Chico Lopes, escritor.